O HISTORIADOR MORRETENSE - ERIC J. HUNZICKER

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Rocha Pombo Retorna ao Rio de Janeiro

1917-10 de dezembro: Brasileiros Ilustres. Regressou ontem, do norte do Brasil, o Dr. Rocha Pombo. “O grande historiador revela as suas impressões.” Acha-se desde ontem, novamente no seio da família carioca o eminente historiador brasileiro Dr. Rocha Pombo. Sua Senhoria viajou a bordo do paquete “Pará”, do Loyd Brasileiro, o qual, pelas 8 horas, transpunha a barra do Rio de Janeiro, para dentro em pouco atracar no Armazém 12 do Cais do Porto, onde crescido número de amigos do viajante ilustre lhe abria os braços, numa saudação eloquente e amiga. E às 9 horas o Dr. Rocha Pombo pisava o solo da nossa “urbe”. O grande historiador patrício há cerca de 5 meses que se ausentara do Rio, empreendendo uma peregrinação pelos nossos Estados do norte, a fim de colher documentos para o trabalho que vai escrever acerca dos acontecimentos desenrolados no seio de nossa Pátria no período decorrido de 1822 a 1922. O Dr. Rocha Pombo traz a alma transbordante do mais intenso arrebatamento. Tudo fascinou o espírito do nosso patrício: a cultura dos homens, a opinião consciente do povo e o colorido da própria natureza do norte. No cais, entre as saudações dos amigos tornou-se tarefa difícil trocar impressões com o Dr. Rocha Pombo. Em sua residência, porém, mais fácil nos foi conversar acerca da recente viagem, e ali, à Rua Jockey Club, fomos encontrar o Dr. Rocha Pombo entregue ao doce convívio de sua Exma. família, de quem S.S. se achava cercado. “Na residência do viajante ilustre.” Uma vez que nos fizemos anunciar o Dr. Rocha Pombo imediatamente conduziu-nos para o interior da sua residência, prontificando-se a satisfazer a nossa natural curiosidade jornalística. “O Norte do Brasil empolgou Rocha Pombo.” –Dr., “A Época” deseja conhecer as impressões que traz da recente viagem. –As minhas impressões, meu caro, são de todo inexcedíveis de arrebatamento. Venho imensamente empolgado pelas maravilhas que lá vi. –Mas, que nos diz a respeito da investigação histórica a que se propôs? –Tudo consegui sem grande esforço. –Pode relatar-nos tudo? – Devo dizer, porém, que, antes de penetrar neste ponto, é forçoso exprimir o meu contentamento diante da grandiosidade que se estampa por todo o norte do Brasil. Direi que minha alma passou pela mais viva surpresa, uma vez que a cultura dos nortistas, o seu grande amor as ciências, as artes e as letras ultrapassam a qualquer expectativa. Infelizmente, essas mentalidades que se espalham por todo o norte, vivem mergulhadas no mais tenebroso esquecimento, quando, pelo contrário, os seus nomes e as suas obras mereciam irradiar-se por toda a parte. “O Nacionalismo no Brasil é um fato”. –E quanto ao movimento nacionalista? –Julgo que o norte do Brasil se tem tornado um verdadeiro campeão no reerguimento do nosso patriotismo. Duas festas a que assisti, deram-me o mais eloquente testemunho disso. Em Manaus tive ocasião de assistir a festa do juramento a Bandeira do Tiro Naval, festa que coincidiu com a comemoração do 15 de Novembro. Desse acontecimento partilharam os representantes de todas as camadas sociais, sendo notável o entusiasmo, quer das gentilíssimas senhorinhas, quer das próprias crianças. Em Belém assisti, na minha volta, as festas a Bandeira. Um deslumbramento. Tanto que me sinto ter regressado mais brasileiro. A confiança nos respectivos governos constitui um fato bastante notável em todo o norte. Daí resulta o traço evidente de adiantamento que em toda parte notei. Mais elevadas ainda são a confiança e a admiração que os nortistas depositam e consagram no Dr. Wenceslau Braz, Presidente da República. “A Consagração do Dr. Wenceslau Braz.” Em uma das capitais por onde passei, lembro-me de ter ouvido esta frase: “O Dr. Wenceslau Braz é uma revelação confortante para a alma republicana.” Mais importante ainda é ouvirem-se tais demonstrações no seio do povo brasileiro. –E trabalhou na missão que empreendeu? Bastante. No entanto, não posso esquecer o brilhante concurso que me prestaram, quer os governos, quer os próprios homens que se dedicam ao cultivo das ciências e das letras. “Rocha Pombo alcançou o maior êxito.”–Quanto aos frutos que colheu? –Foram tais que estou habilitado a dizer que a minha missão alcançou o mais completo êxito. Trago a mais abundante documentação para a minha obra, que, como sabe, será a História do Brasil, dentro do século que vai de 1822 a 1922. Consegui excelentes manifestos, memórias, autógrafos, importantíssimos mapas, dados estatísticos, etc. Basta dizer que, em Santo Amaro, no Estado de Sergipe, encontrei o Padre Leonardo Dantas, ancião respeitável e ilustradíssimo, que me mimoseou com a história da fundação daquela cidade. Esse trabalho foi-me oferecido de um modo mui lisonjeiro, pois o Padre Dantas deu-me o próprio original, com a assinatura. De outras importantíssimas cidades trago documentos idênticos. Conforme disse, logrei o concurso de diversas notabilidades. Assim, assinalarei os inestimáveis serviços que me prestaram os Srs.: Dr. Bernardino de Souza e Borges de Barros, na Bahia; Dr. Faria e Souza, em Manaus; Alfredo Matta e Mariano de Lima e outros excelentes amigos. –Nada faltou, portanto? –Nada. Vêm comigo dezesseis caixões com documentos importantíssimos. – E no caso que se refere a administração dos Estados? “O Norte do Brasil está sendo bem administrado.” –O povo nortista julga seu dever vangloriar-se pelos administradores que possui. É bem verdade que se sentem os efeitos de um enorme tufão que por ali passou. Mas, nos dias de agora, tudo marcha admiravelmente. No Pará, o Dr. Lauro Sodré tem dado provas da sua fecunda e honesta orientação nos negócios públicos. O Estado encontra-se em situação de franca prosperidade, caminhando os ramos da administração pública da melhor forma possível. O mesmo sucede no Amazonas, onde o Dr. Alcântara Bacellar corresponde magnificamente a confiança do povo. Nos demais Estados o mesmo se observa, o que importa em dizer que o Brasil caminha para um futuro grandioso e sublime. –E a política? –A minha missão não me permitia emaranhar-me. Mas, com os políticos com quem conversei largamente, só ouvia de seus lábios o interesse máximo pelo sucesso da minha viagem. É que todos são bons brasileiros e só amam o engrandecimento da nossa Pátria, sobretudo. “A feição que terá o trabalho de Rocha Pombo.” –Mas Dr. Como pretende dividir o trabalho? –Tratarei da História do Brasil, desde as eras coloniais, a Independência e principalmente a fase republicana. Nesse sentido consegui documentos de rara preciosidade. Julgamos, porém, não dever mais fatigar o eminente historiador. S.S., mal regressou do norte, já tem organizada sua viagem ao sul do Brasil, aonde vai animado do mesmo intuito. Sua partida, no entanto, depende tão só de organizar, ou melhor, coligir os documento que o norte lhe forneceu. Proximamente o Dr. Rocha Pombo reunirá, em sua residência, os representantes da imprensa carioca, a quem não só mostrará os documentos que trouxe, como também oferecerá uma taça do precioso Guaraná. 1977/30/02. (A Época-Rio de Janeiro).

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