1917-10
de dezembro: Brasileiros Ilustres. Regressou ontem, do norte do Brasil, o Dr. Rocha
Pombo. “O grande historiador revela as
suas impressões.” Acha-se desde ontem, novamente no seio da família carioca
o eminente historiador brasileiro Dr. Rocha Pombo. Sua Senhoria viajou a bordo
do paquete “Pará”, do Loyd Brasileiro, o qual, pelas 8 horas, transpunha a
barra do Rio de Janeiro, para dentro em pouco atracar no Armazém 12 do Cais do
Porto, onde crescido número de amigos do viajante ilustre lhe abria os braços,
numa saudação eloquente e amiga. E às 9 horas o Dr. Rocha Pombo pisava o solo
da nossa “urbe”. O grande historiador patrício há cerca de 5 meses que se
ausentara do Rio, empreendendo uma peregrinação pelos nossos Estados do norte,
a fim de colher documentos para o trabalho que vai escrever acerca dos acontecimentos
desenrolados no seio de nossa Pátria no período decorrido de 1822 a 1922. O Dr.
Rocha Pombo traz a alma transbordante do mais intenso arrebatamento. Tudo
fascinou o espírito do nosso patrício: a cultura dos homens, a opinião
consciente do povo e o colorido da própria natureza do norte. No cais, entre as
saudações dos amigos tornou-se tarefa difícil trocar impressões com o Dr. Rocha
Pombo. Em sua residência, porém, mais fácil nos foi conversar acerca da recente
viagem, e ali, à Rua Jockey Club, fomos encontrar o Dr. Rocha Pombo entregue ao
doce convívio de sua Exma. família, de quem S.S. se achava cercado. “Na residência do viajante ilustre.” Uma
vez que nos fizemos anunciar o Dr. Rocha Pombo imediatamente conduziu-nos para
o interior da sua residência, prontificando-se a satisfazer a nossa natural
curiosidade jornalística. “O Norte do
Brasil empolgou Rocha Pombo.” –Dr., “A Época” deseja conhecer as impressões
que traz da recente viagem. –As minhas impressões, meu caro, são de todo
inexcedíveis de arrebatamento. Venho imensamente empolgado pelas maravilhas que
lá vi. –Mas, que nos diz a respeito da investigação histórica a que se propôs?
–Tudo consegui sem grande esforço. –Pode relatar-nos tudo? – Devo dizer, porém,
que, antes de penetrar neste ponto, é forçoso exprimir o meu contentamento
diante da grandiosidade que se estampa por todo o norte do Brasil. Direi que
minha alma passou pela mais viva surpresa, uma vez que a cultura dos nortistas,
o seu grande amor as ciências, as artes e as letras ultrapassam a qualquer
expectativa. Infelizmente, essas mentalidades que se espalham por todo o norte,
vivem mergulhadas no mais tenebroso esquecimento, quando, pelo contrário, os
seus nomes e as suas obras mereciam irradiar-se por toda a parte. “O Nacionalismo no Brasil é um fato”. –E
quanto ao movimento nacionalista? –Julgo que o norte do Brasil se tem tornado
um verdadeiro campeão no reerguimento do nosso patriotismo. Duas festas a que
assisti, deram-me o mais eloquente testemunho disso. Em Manaus tive ocasião de
assistir a festa do juramento a Bandeira do Tiro Naval, festa que coincidiu com
a comemoração do 15 de Novembro. Desse acontecimento partilharam os
representantes de todas as camadas sociais, sendo notável o entusiasmo, quer
das gentilíssimas senhorinhas, quer das próprias crianças. Em Belém assisti, na
minha volta, as festas a Bandeira. Um deslumbramento. Tanto que me sinto ter
regressado mais brasileiro. A confiança nos respectivos governos constitui um
fato bastante notável em todo o norte. Daí resulta o traço evidente de
adiantamento que em toda parte notei. Mais elevadas ainda são a confiança e a
admiração que os nortistas depositam e consagram no Dr. Wenceslau Braz,
Presidente da República. “A Consagração
do Dr. Wenceslau Braz.” Em uma das capitais por onde passei, lembro-me de
ter ouvido esta frase: “O Dr. Wenceslau Braz é uma revelação confortante para a
alma republicana.” Mais importante ainda é ouvirem-se tais demonstrações no
seio do povo brasileiro. –E trabalhou na missão que empreendeu? Bastante. No
entanto, não posso esquecer o brilhante concurso que me prestaram, quer os
governos, quer os próprios homens que se
dedicam ao cultivo das ciências e das letras. “Rocha Pombo alcançou o maior êxito.”–Quanto aos frutos que colheu?
–Foram tais que estou habilitado a dizer que a minha missão alcançou o mais
completo êxito. Trago a mais abundante documentação para a minha obra, que,
como sabe, será a História do Brasil, dentro do século que vai de 1822 a 1922.
Consegui excelentes manifestos, memórias, autógrafos, importantíssimos mapas,
dados estatísticos, etc. Basta dizer que, em Santo Amaro, no Estado de Sergipe,
encontrei o Padre Leonardo Dantas, ancião respeitável e ilustradíssimo, que me
mimoseou com a história da fundação daquela cidade. Esse trabalho foi-me
oferecido de um modo mui lisonjeiro, pois o Padre Dantas deu-me o próprio
original, com a assinatura. De outras importantíssimas cidades trago documentos
idênticos. Conforme disse, logrei o concurso de diversas notabilidades. Assim,
assinalarei os inestimáveis serviços que me prestaram os Srs.: Dr. Bernardino
de Souza e Borges de Barros, na Bahia; Dr. Faria e Souza, em Manaus; Alfredo
Matta e Mariano de Lima e outros excelentes amigos. –Nada faltou, portanto?
–Nada. Vêm comigo dezesseis caixões com documentos importantíssimos. – E no
caso que se refere a administração dos Estados? “O Norte do Brasil está sendo bem administrado.” –O povo nortista
julga seu dever vangloriar-se pelos administradores que possui. É bem verdade
que se sentem os efeitos de um enorme tufão que por ali passou. Mas, nos dias
de agora, tudo marcha admiravelmente. No Pará, o Dr. Lauro Sodré tem dado
provas da sua fecunda e honesta orientação nos negócios públicos. O Estado
encontra-se em situação de franca prosperidade, caminhando os ramos da
administração pública da melhor forma possível. O mesmo sucede no Amazonas,
onde o Dr. Alcântara Bacellar corresponde magnificamente a confiança do povo.
Nos demais Estados o mesmo se observa, o que importa em dizer que o Brasil
caminha para um futuro grandioso e sublime. –E a política? –A minha missão não
me permitia emaranhar-me. Mas, com os políticos com quem conversei largamente,
só ouvia de seus lábios o interesse máximo pelo sucesso da minha viagem. É que
todos são bons brasileiros e só amam o engrandecimento da nossa Pátria,
sobretudo. “A feição que terá o trabalho
de Rocha Pombo.” –Mas Dr. Como pretende dividir o trabalho? –Tratarei da
História do Brasil, desde as eras coloniais, a Independência e principalmente a
fase republicana. Nesse sentido consegui documentos de rara preciosidade.
Julgamos, porém, não dever mais fatigar o eminente historiador. S.S., mal
regressou do norte, já tem organizada sua viagem ao sul do Brasil, aonde vai
animado do mesmo intuito. Sua partida, no entanto, depende tão só de organizar,
ou melhor, coligir os documento que o norte lhe forneceu. Proximamente o Dr.
Rocha Pombo reunirá, em sua residência, os representantes da imprensa carioca,
a quem não só mostrará os documentos que trouxe, como também oferecerá uma taça
do precioso Guaraná. 1977/30/02. (A Época-Rio de Janeiro).
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