Marcelino José Nogueira Junior
MORRETES E A EMANCIPAÇÃO DO
PARANÁ
A experiencia, confirmada por suas estreitas
relações com as cousas e os factos, tem demonstrado que, na vida social, a
industria é a raiz, o fundamento ou a causa primaria de tudo. Della deflue não
só o desenvolvimento material, como o progresso humano sob o aspecto mais
elevado de conquista do bem estar, da ordem, da liberdade, ou da emancipação da
própria consciencia, já então impellida até a plena posse de seus sagrados e
imprescriptiveis direitos. Essa verdade levou primoroso escriptor a reconhecer
que a própria liberdade politica depende essencialmente do progresso
industrial, pelo que não é de mero parallelismo, porém de verdadeira
causalidade, a relação que ha entre a historia da industria e a historia da
civilização politica. Por isso, quem tiver um dia de estudar a marcha
ascencional da civilização politica no Paraná, hade ir tomar, na pequena e
gloriosa povoação de Morretes, o seu antecedente necessario, ou o ponto donde,
mais tarde, irradiou-se ella por todo o territorio paranaense.
Obedecendo
já em sua fundação a elevados intuitos commerciaes, como attesta sua posição,
excellente em relação ao estado da viação áquelle tempo, Morretes muito cedo
attrahiu as vistas de quantos conseguiram divisar, atravez as dubias
entrevistas do futuro, a grandeza material e moral, que lhe estava reservada.
Homens emprehendedores, com ardente fé nos
resultados do trabalho honesto, intelligente e perserverante, alli foram se
estabelecer, lançando os germens do progresso economico, que dentro em pouco
devia se revelar e accentuar. Então, a industria manufactureira do matte, que
ainda é hoje a principal do Paraná, foi alli iniciada sob os melhores
auspicios, determinando o aproveitamento de inexgotaveis riquezas, quer para o
extractor, quer para os industriaes, que, beneficiando-o, iam leval-o
transformado aos centros consumidores. Por sua vez o commercio, com vitalidade
assás apreciavel, começou a desenvolver-se, estendendo dia a dia esphera de
suas operações e ligando, pelas vantagens, immensas de civilizadora permutação,
as populações ruraes mais affastadas á nova e florescente praça de Morretes. Ao
lado dessas, innumeras outras industrias auxiliares surgiram, contribuindo, em
concerto admiravel, para o desenvolvimento da pequena povoação, cujo progresso
economico de mais se acentuava. Assim, muitas dezenas de annos não eram
passadas, e as primitivas choças appareciam convertidas em edificios; as
fabricas, armazens e depositos se haviam multiplicado; a população augmentara
consideravelmente e de vez se tinha formado o centro para onde corria já grande
numero de productores e consumidores, entregues todos á permuta de actividades
e valores, no seu mais elevado aspecto economico.
Os resultados desse progresso industrial não se
fizeram esperar. Dentro de alguns annos mais, tinha elle levado, na
solidariedade admiravel que prende as industrias entre si, o desenvolvimento
economico ás mais remotas paragens, e de toda a parte se lhe ouvia a voz,
chamando o homem a mais santa de todas as pugnas: a que tem por instrumento a
ferramenta e o trabalho e por divisa o desenvolvimento e a independencia da
sociedade, E, de envolta com esse desenvolvimento, levou aquelle progresso a
todas as classes sociaes a consciencia da propria força, a aspiração do bem
estar e da ordem, o sentimento da liberdade e da independencia. Só depois, como
culminante remate a essas bellas vegetações moraes, veio a emancipação da
quinta comarca (No momento da emancipação o Paraná era a décima comarca –
NP) de São. Paulo e com ella a installação da provincia do Paraná.
Portanto, em seu caracter de signal inequivoco de
adiantado gráo de civilização politica, a emancipação do Paraná apparece,
logicamente na historia, como a resultante do progresso industrial e economico,
que irradiou-se, em torrentes de luz, da pequena povoação fundada ás margens do Nhundiaquara por todo o território
paranaense.
Morretes foi o berço da liberdade politica do
Paraná.
19 de Dezembro de 1903.
Obs. Está publicado com a orografia que foi originalmente publicado.
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