1856-17 de
dezembro: Necessidade
da Navegação a Vapor no Rio de Morretes. As viagens que dantes levavam anos,
contam-se hoje por dias, as notícias, as correspondências, que gastavam semanas
para chegarem dum ponto a outro, voam agora em segundos nas asas da
eletricidade. No entanto, subsistindo estes progressos, dos quais se tem
colhido inúmeras vantagens, e que tendem a fazer caminhar-se para a harmonia
universal, não sendo estranho para o Brasil, aonde já existem bastante navios a
vapor e até uma pequena linha elétrica, não sabemos porque ainda não puderam
fazer a sua introdução nesta Província. Não queremos que por enquanto se pense
no estabelecimento das linhas elétricas, não, mas quiséramos, ao menos, que
algum homem de verdadeiro espírito comercial e empreendedor se lembrasse de dar
vida a uma ideia que já existiu em Paranaguá –o estabelecimento de uma linha de
vapores no Rio de Morretes- cuja ideia, por infelicidade caiu no olvido, donde
até hoje se não tem podido desenterrar. Quiséramos, repetimos, que os
negociantes desta cidade, de acordo com os de Morretes e Porto de Cima, não só
em benefício da Província, mas também de suas conveniências, tratassem de
superar as dificuldades causadas pelos péssimos serviços dos barquinhos e
canoas, que além de demorado e irregularíssimo, considerado de qualquer forma.
Quem acreditará, fora daqui, que as conduções feitas em embarcações de vela por
uma excelente baía e um rio bastante largo e fundo como é o de Morretes até
Barreiros, sofrem às vezes a demora de dois a três dias para percorrerem a
curtíssima distância de cinco léguas. E quem ainda julgará que Paranaguá, por
cuja barra se exportam atualmente produtos do país no valor de dois mil contos
de réis, sendo a grande maioria destes artigos vinda pelo Rio de Morretes, não
tem buscado um meio de facilitar os transportes por este rio! Donde procederá
pois a falta de reparo dos negociantes para estas reconhecidas necessidades de
proveito próprio? Não o sabemos. É verdade que algumas pessoas a quem temos
feto igual pergunta, nos responderam que os proprietários dos barquinhos se
opõem a ideia dos vapores, na persuasão de que a realização de semelhantes
projetos os viria prejudicar, porém como temos em muito boa conta o tino de
todos estes senhores, não tomamos tal resposta como razoável, pois é nos lícito
pensar que todos eles estarão compenetrados de que –times is mony- o tempo é dinheiro, segundo dizem os ingleses, os
maiores apreciadores do tempo que há no mundo, e, por conseguinte, quando os
proprietários dos barquinhos e canoas se resolvam a proteger o estabelecimento
dos vapores, aproveitarão como exportadores de erva-mate imenso tempo, e como
acionistas dos novos transportes, (pois deve-se julgar que semelhante empresa
não será obra particular) lucrarão tanto ou mais que as embarcações de vela de
sua propriedade, das quais com facilidade e pouco prejuízo se poderão desfazer.
Apesar de nos acharmos com falta de habilitações para apresentarmos cálculos
comprobatórios da asserção que acima acabamos de fazer, diremos sempre, que
sendo fora de dúvida que dois vapores de porte de 1.600 arrobas cada um, nunca
deixarão de ter carga de Barreiros para Paranaguá e vice-versa, e que
juntando-se a isto o movimento de passageiros, que naturalmente crescerá com a
rapidez dos transportes, deverão apresentar aos acionistas um resultado muito
feliz, ainda mais se atender a que o carvão que tanto encarece a navegação por
meio destas máquinas prodigiosas, pode ser aqui substituído por lenha do mangue
obtida por qualquer bagatela. Finalmente, a questão do estabelecimento de uma
linha de vapores no Rio de Morretes, é de tal utilidade e transcendência
comercial, que ficamos na crença de que não estará longe o dia em que os
negociantes desta cidade, Morretes e Porto de Cima, convencidos disto
cooperarão com alacridade para levarem a efeito uma empresa da qual tantos
benefícios se devem esperar. Paranaguá, 18 de novembro de 1856. O.O.O. 38/1/03. Jornal "Dezenove de Dezembro"
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