O HISTORIADOR MORRETENSE - ERIC J. HUNZICKER

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

1856-17 de dezembro: Necessidade da Navegação a Vapor no Rio de Morretes. As viagens que dantes levavam anos, contam-se hoje por dias, as notícias, as correspondências, que gastavam semanas para chegarem dum ponto a outro, voam agora em segundos nas asas da eletricidade. No entanto, subsistindo estes progressos, dos quais se tem colhido inúmeras vantagens, e que tendem a fazer caminhar-se para a harmonia universal, não sendo estranho para o Brasil, aonde já existem bastante navios a vapor e até uma pequena linha elétrica, não sabemos porque ainda não puderam fazer a sua introdução nesta Província. Não queremos que por enquanto se pense no estabelecimento das linhas elétricas, não, mas quiséramos, ao menos, que algum homem de verdadeiro espírito comercial e empreendedor se lembrasse de dar vida a uma ideia que já existiu em Paranaguá –o estabelecimento de uma linha de vapores no Rio de Morretes- cuja ideia, por infelicidade caiu no olvido, donde até hoje se não tem podido desenterrar. Quiséramos, repetimos, que os negociantes desta cidade, de acordo com os de Morretes e Porto de Cima, não só em benefício da Província, mas também de suas conveniências, tratassem de superar as dificuldades causadas pelos péssimos serviços dos barquinhos e canoas, que além de demorado e irregularíssimo, considerado de qualquer forma. Quem acreditará, fora daqui, que as conduções feitas em embarcações de vela por uma excelente baía e um rio bastante largo e fundo como é o de Morretes até Barreiros, sofrem às vezes a demora de dois a três dias para percorrerem a curtíssima distância de cinco léguas. E quem ainda julgará que Paranaguá, por cuja barra se exportam atualmente produtos do país no valor de dois mil contos de réis, sendo a grande maioria destes artigos vinda pelo Rio de Morretes, não tem buscado um meio de facilitar os transportes por este rio! Donde procederá pois a falta de reparo dos negociantes para estas reconhecidas necessidades de proveito próprio? Não o sabemos. É verdade que algumas pessoas a quem temos feto igual pergunta, nos responderam que os proprietários dos barquinhos se opõem a ideia dos vapores, na persuasão de que a realização de semelhantes projetos os viria prejudicar, porém como temos em muito boa conta o tino de todos estes senhores, não tomamos tal resposta como razoável, pois é nos lícito pensar que todos eles estarão compenetrados de que –times is mony- o tempo é dinheiro, segundo dizem os ingleses, os maiores apreciadores do tempo que há no mundo, e, por conseguinte, quando os proprietários dos barquinhos e canoas se resolvam a proteger o estabelecimento dos vapores, aproveitarão como exportadores de erva-mate imenso tempo, e como acionistas dos novos transportes, (pois deve-se julgar que semelhante empresa não será obra particular) lucrarão tanto ou mais que as embarcações de vela de sua propriedade, das quais com facilidade e pouco prejuízo se poderão desfazer. Apesar de nos acharmos com falta de habilitações para apresentarmos cálculos comprobatórios da asserção que acima acabamos de fazer, diremos sempre, que sendo fora de dúvida que dois vapores de porte de 1.600 arrobas cada um, nunca deixarão de ter carga de Barreiros para Paranaguá e vice-versa, e que juntando-se a isto o movimento de passageiros, que naturalmente crescerá com a rapidez dos transportes, deverão apresentar aos acionistas um resultado muito feliz, ainda mais se atender a que o carvão que tanto encarece a navegação por meio destas máquinas prodigiosas, pode ser aqui substituído por lenha do mangue obtida por qualquer bagatela. Finalmente, a questão do estabelecimento de uma linha de vapores no Rio de Morretes, é de tal utilidade e transcendência comercial, que ficamos na crença de que não estará longe o dia em que os negociantes desta cidade, Morretes e Porto de Cima, convencidos disto cooperarão com alacridade para levarem a efeito uma empresa da qual tantos benefícios se devem esperar. Paranaguá, 18 de novembro de 1856. O.O.O. 38/1/03. Jornal "Dezenove de Dezembro"

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