Revista “Illustração
Paranaense”. Número 1, de novembro de 1927.
O RIO DA
MINHA TERRA.
Quando eu
era criança, meu pai sempre dizia: “menino... Não vás a beira do rio. Ele te
mata...”
Eu ficava
arrepiado de medo!
A morte,
para os meus cinco anos, era uma coisa enorme, feia, parecida com o Caapora!
Gostava de
admirar o Nhundiaquara!... Sempre ao longe... Temia o perigo de suas águas
revoltas e cheias de Duendes... Extasiava-me ante o revoar rastejante das
andorinhas, que faziam acrobacias no palco irrequieto do rio da minha terra!
* * *
Os meus
amigos de meninice, todas as tardes iam tomar banho, nadar... Nunca os
acompanhei... Ficava olhando-os de longe... Invejava-os.
Ambicionava-lhes
a coragem...
Mas, logo
vinha a minha ideia a figura grotesca do Caapora, que tudo matava, tudo
arrasava, tudo comia!
O Nhundiaquara
foi o fantasma da minha infância!...
Agora que já
se passaram quinze anos, o rio da minha terra me parece mais bondoso, mais
calmo, mais amigo...
Os
ingazeiros curvam seus galhos enflorados para beijar suas águas balouçantes...
E elas são
tão claras e transparentes, que deixam ver lá no fundo arenoso os malabarismos
dos peixes buliçosos...
Não faz mal
a ninguém, o meu pobre rio...
Antigamente
em seus ombros, passavam ouro, riquezas imensas, que iam até o Itiberê!...
Hoje tudo
acabou... A locomotiva furtou o seu entusiasmo...
* * *
Mas, à noite,
as estrelas descem do firmamento para conversar com o rio da minha terra!
O seu marulhar
é suave, Calmo, Bondoso, Santo.
E eu tenho a
impressão de que o Nhundiaquara é um pedaço de céu que rolou do infinito, para
que nós pudéssemos estar mais próximos de Deus!... ODILON NEGRÃO
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