O HISTORIADOR MORRETENSE - ERIC J. HUNZICKER

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Revista “Illustração Paranaense”. Número 1, de novembro de 1927.
O RIO DA MINHA TERRA.
Quando eu era criança, meu pai sempre dizia: “menino... Não vás a beira do rio. Ele te mata...”
Eu ficava arrepiado de medo!
A morte, para os meus cinco anos, era uma coisa enorme, feia, parecida com o Caapora!
Gostava de admirar o Nhundiaquara!... Sempre ao longe... Temia o perigo de suas águas revoltas e cheias de Duendes... Extasiava-me ante o revoar rastejante das andorinhas, que faziam acrobacias no palco irrequieto do rio da minha terra!
* * *
Os meus amigos de meninice, todas as tardes iam tomar banho, nadar... Nunca os acompanhei... Ficava olhando-os de longe... Invejava-os.
Ambicionava-lhes a coragem...
Mas, logo vinha a minha ideia a figura grotesca do Caapora, que tudo matava, tudo arrasava, tudo comia!
O Nhundiaquara foi o fantasma da minha infância!...
Agora que já se passaram quinze anos, o rio da minha terra me parece mais bondoso, mais calmo, mais amigo...
Os ingazeiros curvam seus galhos enflorados para beijar suas águas balouçantes...
E elas são tão claras e transparentes, que deixam ver lá no fundo arenoso os malabarismos dos peixes buliçosos...
Não faz mal a ninguém, o meu pobre rio...
Antigamente em seus ombros, passavam ouro, riquezas imensas, que iam até o Itiberê!...
Hoje tudo acabou... A locomotiva furtou o seu entusiasmo...
* * *
Mas, à noite, as estrelas descem do firmamento para conversar com o rio da minha terra!
O seu marulhar é suave, Calmo, Bondoso, Santo.

E eu tenho a impressão de que o Nhundiaquara é um pedaço de céu que rolou do infinito, para que nós pudéssemos estar mais próximos de Deus!... ODILON NEGRÃO

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